Prece Inicial para o Evangelho no Lar
Senhor Jesus, Mestre amado,
Aqui estamos reunidos em Teu nome para mais um Evangelho no Lar. Que a Tua luz envolva este ambiente, trazendo paz, harmonia e proteção a todos os que aqui se encontram, encarnados e desencarnados.
Pedimos a presença dos bons Espíritos, nossos amigos e mentores, para que nos inspirem, esclareçam e fortaleçam na caminhada do bem.
Que possamos abrir nosso coração e nossa mente aos ensinamentos que iremos ler e refletir, e que eles encontrem morada em nossas atitudes, palavras e pensamentos.
Abençoa, Senhor, este lar e todos os lares da Terra, especialmente aqueles que passam por dificuldades, dores ou aflições.
Seja feita, Senhor, a Tua vontade, hoje e sempre.
Que assim seja.
Evangelho no Lar
Tema: Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo
Ao longo da história, Deus enviou à humanidade mentes iluminadas para preparar o solo do entendimento espiritual. Antes mesmo da vinda de Jesus, filósofos como Sócrates e Platão já transmitiam ensinamentos que apontavam para verdades eternas — a imortalidade da alma, a importância da virtude e a primazia do bem sobre os interesses materiais.
Esses pensadores não conheciam o Cristo como o conhecemos, mas, inspirados pela lei divina que vibra em todas as consciências, foram mensageiros que antecederam a revelação maior. Assim como a aurora anuncia o sol, suas palavras abriram caminho para que, séculos depois, Jesus trouxesse a plena luz do Evangelho.
O Espiritismo, por sua vez, retoma e amplia esses princípios, revelando que a verdade é progressiva e se manifesta em diferentes tempos e culturas, sempre de acordo com a capacidade de compreensão do homem. Ao reconhecermos o valor dos precursores, aprendemos que toda boa semente plantada em nome da verdade contribui para a obra divina.
Que possamos, à semelhança de Sócrates e Platão, cultivar em nosso dia a dia a busca pela verdade, a prática do bem e o amor ao próximo, preparando o mundo e nosso próprio coração para receber cada vez mais a luz do Cristo.
IV – Sócrates e Platão, precursores da
ideia cristã e do Espiritismo
Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essênios, fora errôneo
concluir-se que a sua doutrina hauriu-a ele dessa seita e que, se houvera
vivido noutro meio, teria professado outros princípios. As grandes ideias
jamais irrompem de súbito. As que assentam sobre a verdade sempre têm
precursores que lhes preparam parcialmente os caminhos. Depois, chegando o tempo, envia Deus um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementos esparsos, de reuni-los em corpo de doutrina.
Desse modo, não surgindo bruscamente, a ideia, ao aparecer, encontra espíritos dispostos a aceitá-la. Tal o que se deu com a ideia cristã, que foi
pressentida muitos séculos antes de Jesus e dos essênios, tendo por principais precursores Sócrates e Platão.
Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou, pelo menos, nenhum
escrito deixou. Como o Cristo, teve a morte dos criminosos, vítima do
fanatismo, por haver atacado as crenças que encontrara e colocado a virtude real acima da hipocrisia e do simulacro das formas; por haver, numa
palavra, combatido os preconceitos religiosos. Do mesmo modo que Jesus,
a quem os fariseus acusavam de estar corrompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava, também ele foi acusado, pelos fariseus do
seu tempo, visto que sempre os houve em todas as épocas, por proclamar
o dogma da unidade de Deus, da imortalidade da alma e da vida futura.
Assim como a doutrina de Jesus só a conhecemos pelo que escreveram seus
discípulos, da de Sócrates só temos conhecimento pelos escritos de seu discípulo Platão. Julgamos conveniente resumir aqui os pontos de maior relevo, para mostrar a concordância deles com os princípios do Cristianismo.
Aos que considerarem esse paralelo uma profanação e pretendam que
não pode haver paridade entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, diremos que não era pagã a de Sócrates, pois que objetivava combater o paganismo; que a de Jesus, mais completa e mais depurada do que aquela, nada tem
que perder com a comparação; que a grandeza da missão divina do Cristo
não pode ser diminuída; que, ademais, trata-se de um fato da História, que
a ninguém será possível apagar. O homem há chegado a um ponto em que
a luz emerge por si mesma de sob o alqueire. Ele se acha maduro bastante
para encará-la; tanto pior para os que não ousem abrir os olhos. Chegou o
tempo de se considerarem as coisas de modo amplo e elevado, não mais do
ponto de vista mesquinho e acanhado dos interesses de seitas e de castas.
Além disso, estas citações provarão que, se Sócrates e Platão pressentiram a ideia cristã, em seus escritos também se nos deparam os princípios
fundamentais do Espiritismo.
Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão
I. O homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação, existia unida aos
tipos primordiais das ideias do verdadeiro, do bem e do belo; separa-se deles, encarnando, e, recordando o seu passado, é mais ou menos atormentada pelo desejo
de voltar a ele. Não se pode enunciar mais claramente a distinção e independência entre o princípio inteligente e o princípio material. É, além disso, a
doutrina da preexistência da alma; da vaga intuição que ela guarda de um
outro mundo, a que aspira; da sua sobrevivência ao corpo; da sua saída do
mundo espiritual, para encarnar, e da sua volta a esse mesmo mundo, após
a morte. É, finalmente, o gérmen da doutrina dos anjos decaídos.
II. A alma se transvia e perturba, quando se serve do corpo para considerar qual
quer objeto; tem vertigem, como se estivesse ébria, porque se prende a coisas que
estão, por sua natureza, sujeitas a mudanças; ao passo que, quando contempla a
sua própria essência, dirige-se para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo ela dessa
natureza, permanece aí ligada, por tanto tempo quanto possa. Cessam então os
seus transviamentos, pois que está unida ao que é imutável e a esse estado da alma
é que se chama sabedoria.
Assim, ilude a si mesmo o homem que considera as coisas de modo
terra a terra, do ponto de vista material. Para as apreciar com justeza, tem
de as ver do alto, isto é, do ponto de vista espiritual. Aquele, pois, que está
de posse da verdadeira sabedoria, tem de isolar do corpo a alma, para ver
com os olhos do Espírito. É o que ensina o Espiritismo. (Cap. II, item 5.)
III. Enquanto tivermos o nosso corpo e a alma se achar mergulhada nessa corrupção, nunca possuiremos o objeto dos nossos desejos: a verdade. Com efeito, o
corpo nos suscita mil obstáculos pela necessidade em que nos achamos de cuidar
dele. Ademais, ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras
e de mil tolices, de maneira que, com ele, impossível se nos torna ser ajuizados,
nem por um instante. Todavia se não nos é possível conhecer puramente coisa
alguma enquanto a alma nos está ligada ao corpo, de duas uma: ou jamais conheceremos a verdade, ou só a conheceremos após a morte. Libertos da loucura do
corpo, conversaremos então, lícito é esperá-lo, com homens igualmente libertos
e conheceremos, por nós mesmos, a essência das coisas. Essa a razão por que os
verdadeiros filósofos se exercitam em morrer e a morte não se lhes afigura, de
modo nenhum, temível.
Está aí o princípio das faculdades da alma obscurecidas por motivo
dos órgãos corporais e o da expansão dessas faculdades depois da morte.
Trata-se, porém, apenas de almas já depuradas; o mesmo não se dá com as
almas impuras. (O céu e o inferno, 1a Parte, cap. II; 2a Parte, cap. I.)
IV. A alma impura, nesse estado, se encontra oprimida e se vê de novo arrasta
da para o mundo visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Erra, então,
diz-se, em torno dos monumentos e dos túmulos, junto aos quais já se têm visto
tenebrosos fantasmas, quais devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estarem ainda inteiramente puras, que ainda conservam alguma coisa da
forma material, o que faz que a vista humana possa percebê-las. Não são as almas
dos bons; são, porém, as dos maus, que se veem forçadas a vagar por esses lugares,
onde arrastam consigo a pena da primeira vida que tiveram e onde continuam
a vagar até que os apetites inerentes à forma material de que se revestiram as
reconduzam a um corpo. Então, sem dúvida, retomam os mesmos costumes que
durante a primeira vida constituíam objeto de suas predileções.
Não somente o princípio da reencarnação se acha aí claramente expresso, mas também o estado das almas que se mantêm sob o jugo da matéria é descrito qual o mostra o Espiritismo nas evocações. Mais ainda: no
tópico acima se diz que a reencarnação num corpo material é consequência
da impureza da alma, enquanto as almas purificadas se encontram isentas
de reencarnar. Outra coisa não diz o Espiritismo, acrescentando apenas que
a alma, que boas resoluções tomou na erraticidade e que possui conheci
mentos adquiridos, traz, ao renascer, menos defeitos, mais virtudes e ideias
intuitivas do que tinha na sua existência precedente. Assim, cada existência
lhe marca um progresso intelectual e moral. (O céu e o inferno, 2a Parte:
Exemplos.)
V. Após a nossa morte, o gênio (daïmon, demônio), que nos fora designado durante a vida, leva-nos a um lugar onde se reúnem todos os que têm de ser conduzidos
ao Hades, para serem julgados. As almas, depois de haverem estado no Hades o
tempo necessário, são reconduzidas a esta vida em múltiplos e longos períodos.
É a doutrina dos anjos guardiães, ou Espíritos protetores, e das
reencarnações sucessivas, em seguida a intervalos mais ou menos longos
de erraticidade.
VI. Os demônios ocupam o espaço que separa o céu da Terra; constituem o
laço que une o Grande Todo a si mesmo. Não entrando nunca a divindade
em comunicação direta com o homem, é por intermédio dos demônios que
os deuses entram em comércio e se entretêm com ele, quer durante a vigília,
quer durante o sono. A palavra daïmon, da qual fizeram o termo demônio, não era, na
Antiguidade, tomada à má parte, como nos tempos modernos. Não designava exclusivamente seres malfazejos, mas todos os Espíritos, em geral,
dentre os quais se destacavam os Espíritos superiores, chamados deuses, e os
menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que comunicavam diretamente com os homens. Também o Espiritismo diz que os Espíritos povoam o Espaço; que Deus só se comunica com os homens por intermédio
dos Espíritos puros, que são os incumbidos de lhes transmitir as vontades;
que os Espíritos se comunicam com eles durante a vigília e durante o sono.
Ponde, em lugar da palavra demônio, a palavra Espírito e tereis a Doutrina
Espírita; ponde a palavra anjo e tereis a doutrina cristã.
VII. A preocupação constante do filósofo (tal como o compreendiam Sócrates e
Platão) é a de tomar o maior cuidado com a alma, menos pelo que respeita a esta
vida, que não dura mais que um instante, do que tendo em vista a eternidade.
Desde que a alma é imortal, não será prudente viver visando à eternidade?
O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.
VIII. Se a alma é imaterial, tem de passar, após essa vida, a um mundo igualmente
invisível e imaterial, do mesmo modo que o corpo, decompondo-se, volta à matéria. Muito importa, no entanto, distinguir bem a alma pura, verdadeiramente
imaterial, que se alimente, como Deus, de ciência e pensamentos, da alma mais ou
menos maculada de impurezas materiais, que a impedem de elevar-se para o divino
e a retêm nos lugares da sua estada na Terra.
Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma. Insistem na diversidade de
situação que resulta para elas da sua maior ou menor pureza. O que eles
diziam, por intuição, o Espiritismo o prova com os inúmeros exemplos
que nos põe sob as vistas. (O céu e o inferno, 2a Parte.)
IX. Se a morte fosse a dissolução completa do homem, muito ganhariam com a
morte os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, da alma e dos
vícios. Aquele que guarnecer a alma, não de ornatos estranhos, mas com os que
lhe são próprios, só esse poderá aguardar tranquilamente a hora da sua partida
para o outro mundo.
Equivale isso a dizer que o materialismo, com o proclamar para de
pois da morte o nada, anula toda responsabilidade moral ulterior, sendo, conseguintemente, um incentivo para o mal; que o mau tem tudo a ganhar
do nada. Somente o homem que se despojou dos vícios e se enriqueceu de
virtudes, pode esperar com tranquilidade o despertar na outra vida. Por
meio de exemplos, que todos os dias nos apresenta, o Espiritismo mostra
quão penoso é, para o mau, o passar desta à outra vida, a entrada na vida
futura. (O céu e o inferno, 2a Parte, cap. I.)
X. O corpo conserva bem impressos os vestígios dos cuidados de que foi objeto e
dos acidentes que sofreu. Dá-se o mesmo com a alma. Quando despida do corpo,
ela guarda, evidentes, os traços do seu caráter, de suas afeições e as marcas que lhe
deixaram todos os atos de sua vida. Assim, a maior desgraça que pode acontecer
ao homem é ir para o outro mundo com a alma carregada de crimes. Vês, Cálicles,
que nem tu, nem Pólux, nem Górgias podereis provar que devamos levar outra
vida que nos seja útil quando estejamos do outro lado. De tantas opiniões diversas,
a única que permanece inabalável é a de que mais vale receber do que cometer uma
injustiça e que, acima de tudo, devemos cuidar, não de parecer, mas de ser homem
de bem. (Colóquios de Sócrates com seus discípulos, na prisão.)
Depara-se-nos aqui outro ponto capital, confirmado hoje pela experiência: o de que a alma não depurada conserva as ideias, as tendências, o
caráter e as paixões que teve na Terra. Não é inteiramente cristã esta máxi
ma: mais vale receber do que cometer uma injustiça? O mesmo pensamento
exprimiu Jesus, usando desta figura: “Se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra.” (Cap. XII, itens 7 e 8.)
XI. De duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma
para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte será como uma dessas raras
noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Todavia, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde
os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem
conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa
outra morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam
tais e não o são. No entanto, é tempo de nos separarmos, eu para morrer, vós para
viverdes. (Sócrates aos seus juízes.)
Segundo Sócrates, os que viveram na Terra se encontram após a
morte e se reconhecem. Mostra o Espiritismo que continuam as relações
que entre eles se estabeleceram, de tal maneira que a morte não é nem uma interrupção, nem a cessação da vida, mas uma transformação, sem
solução de continuidade.
Houvessem Sócrates e Platão conhecido os ensinos que o Cristo difundiu quinhentos anos mais tarde e os que agora o Espiritismo espalha,
e não teriam falado de outro modo. Não há nisso, entretanto, o que surpreenda, se considerarmos que as grandes verdades são eternas e que os
Espíritos adiantados hão de tê-las conhecido antes de virem à Terra, para
onde as trouxeram; que Sócrates, Platão e os grandes filósofos daqueles
tempos bem podem, depois, ter sido dos que secundaram o Cristo na sua
missão divina, escolhidos para esse fim precisamente por se acharem, mais
do que outros, em condições de lhe compreenderem as sublimes lições;
que, finalmente, pode dar-se façam eles agora parte da plêiade dos Espíritos encarregados de ensinar aos homens as mesmas verdades.
XII. Nunca se deve retribuir com outra uma injustiça, nem fazer mal a ninguém,
seja qual for o dano que nos hajam causado. Poucos, no entanto, serão os que
admitam esse princípio, e os que se desentenderem a tal respeito nada mais farão,
sem dúvida, do que se votarem uns aos outros mútuo desprezo.
Não está aí o princípio de caridade, que prescreve não se retribua o
mal com o mal e se perdoe aos inimigos?
XIII. É pelos frutos que se conhece a árvore. Toda ação deve ser qualificada pelo que produz: qualificá-la de má, quando dela provenha mal; de boa, quando dê origem ao bem.
Esta máxima: “Pelos frutos é que se conhece a árvore”, se encontra
muitas vezes repetida textualmente no Evangelho.
XIV. A riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não ama a si
mesmo, nem ao que é seu; ama a uma coisa que lhe é ainda mais estranha do que
o que lhe pertence. (Cap. XVI.)
XV. As mais belas preces e os mais belos sacrifícios prazem menos à Divindade
do que uma alma virtuosa que faz esforços por se lhe assemelhar. Grave coisa fora
que os deuses dispensassem mais atenção às nossas oferendas do que à nossa alma;
se tal se desse, poderiam os mais culpados conseguir que eles se lhes tornassem
propícios. Mas não: verdadeiramente justos e retos só o são os que, por suas palavras e atos, cumprem seus deveres para com os deuses e para com os homens.
(Cap. X, itens 7 e 8.)
XVI. Chamo homem vicioso a esse amante vulgar, que mais ama o corpo do que
a alma. O amor está por toda parte em a Natureza, que nos convida ao exercício
da nossa inteligência; até no movimento dos astros o encontramos. É o amor que
orna a Natureza de seus ricos tapetes; ele se enfeita e fixa morada onde se lhe de
parem flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar,
silêncio aos ventos e sono à dor.
O amor, que há de unir os homens por um laço fraternal, é uma
consequência dessa teoria de Platão sobre o amor universal como Lei da
Natureza. Tendo dito Sócrates que “o amor não é nem um deus, nem um
mortal, mas um grande demônio”, isto é, um grande Espírito que preside
ao amor universal, essa proposição lhe foi imputada como crime.
XVII. A virtude não pode ser ensinada; vem por dom de Deus aos que a possuem.
É quase a doutrina cristã sobre a graça; mas se a virtude é um dom
de Deus, é um favor e, então, pode perguntar-se por que não é concedi
da a todos. Por outro lado, se é um dom, carece de mérito para aquele
que a possui. O Espiritismo é mais explícito, dizendo que aquele que
possui a virtude a adquiriu por seus esforços, em existências sucessivas,
despojando-se pouco a pouco de suas imperfeições. A graça é a força que
Deus faculta ao homem de boa vontade para se expungir do mal e praticar
o bem.
XVIII. É disposição natural em todos nós a de nos apercebermos muito menos dos
nossos defeitos, do que dos de outrem.
Diz o Evangelho: “Vedes a palha que está no olho do vosso próximo
e não vedes a trave que está no vosso.” (Cap. X, itens 9 e 10.)
XIX. Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que
tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado,
impossível é que uma parte dele passe bem.
O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e
o corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim,
nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas
afecções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando a Ciência levar em
conta a ação do elemento espiritual na economia, menos frequentes serão
os seus maus êxitos.
XX. Todos os homens, a partir da infância, muito mais fazem de mal do que de bem.
Essa sentença de Sócrates fere a grave questão da predominância do
mal na Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da pluralidade dos
mundos e da destinação do planeta terreno, habitado apenas por uma fração mínima da Humanidade. Somente o Espiritismo resolve essa questão,
que se encontra explanada aqui adiante, nos capítulos (II, III e IV).
XXI. Ajuizado serás, não supondo que sabes o que ignoras.
Isso vai com vistas aos que criticam aquilo de que desconhecem até
mesmo os primeiros termos. Platão completa esse pensamento de Sócrates,
dizendo: “Tentemos, primeiro, torná-los, se for possível, mais honestos nas
palavras; se não o forem, não nos preocupemos com eles e não procuremos
senão a verdade. Cuidemos de instruir-nos, mas não nos injuriemos.” É
assim que devem proceder os espíritas com relação aos seus contraditores
de boa ou má-fé. Revivesse hoje Platão e acharia as coisas quase como no
seu tempo e poderia usar da mesma linguagem. Também Sócrates toparia
criaturas que zombariam da sua crença nos Espíritos e que o qualificariam
de louco, assim como ao seu discípulo Platão.
Foi por haver professado esses princípios que Sócrates se viu ridiculizado, depois acusado de impiedade e condenado a beber cicuta. Tão certo
é que, levantando contra si os interesses e os preconceitos que elas ferem, as
grandes verdades novas não se podem firmar sem luta e sem fazer mártires.
Esse capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo (IV – Sócrates e Platão, precursores da ideia cristã e do Espiritismo) mostra como grandes verdades espirituais não surgem de repente, mas vão sendo preparadas ao longo da história por pensadores e missionários que antecedem grandes revelações.
Allan Kardec explica que Jesus não tirou seus ensinamentos de nenhuma seita ou escola filosófica — como os essênios — mas que a Ideia Cristã já vinha sendo pressentida séculos antes, especialmente por Sócrates e Platão. Esses filósofos, mesmo vivendo no paganismo, combateram superstições e preconceitos religiosos, defendendo a unidade de Deus, a imortalidade da alma e a vida futura — ideias que coincidem com o Cristianismo e, mais tarde, com o Espiritismo.
Pontos principais do capítulo
-
As grandes ideias têm precursores
Antes de uma doutrina completa surgir, Deus envia espíritos adiantados para preparar os corações e mentes. Sócrates e Platão foram como arautos da mensagem que Jesus viria a desenvolver plenamente. -
Semelhança de princípiosKardec resume 21 ideias centrais de Sócrates e Platão, mostrando paralelos diretos com:
-
O Cristianismo (ensinamentos morais de Jesus);
-
O Espiritismo (ensinamentos sobre a alma, reencarnação, comunicabilidade dos espíritos, evolução moral).
-
-
Temas espirituais antecipados por eles:
-
Preexistência e imortalidade da alma (a alma vive antes e depois do corpo);
-
Reencarnação (a alma retorna à vida material para se purificar);
-
Erraticidade (intervalo entre encarnações);
-
Influência dos espíritos (daïmon, anjo guardião);
-
Importância da pureza moral para alcançar a verdadeira sabedoria;
-
Caridade e não retribuição do mal;
-
Desapego das riquezas;
-
Primazia da alma sobre o corpo;
-
Valor da busca da verdade acima do orgulho intelectual;
-
Ligação entre saúde física e estado da alma.
-
-
Postura diante da verdadeTanto Sócrates como Jesus enfrentaram resistência e perseguição porque desafiaram crenças estabelecidas e interesses de grupos religiosos da época. Ambos foram injustamente acusados e mortos, tornando-se mártires da verdade.
-
Conclusão de KardecAs ideias de Sócrates e Platão não diminuem a grandeza de Jesus, mas demonstram que a verdade é universal e eterna, aparecendo em diferentes épocas e culturas, sempre adaptada ao grau de entendimento da humanidade.Para o Espiritismo, isso prova que há um plano divino contínuo na educação espiritual do homem.
- O ensinamento de Sócrates/Platão
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O paralelo com o Cristianismo
-
O paralelo com o Espiritismo
| Nº | Sócrates / Platão | Paralelo no Cristianismo | Paralelo no Espiritismo |
|---|---|---|---|
| I | O homem é uma alma encarnada, que existia antes do corpo e volta ao mundo espiritual após a morte. | “O espírito é quem vivifica; a carne para nada aproveita.” (Jo 6:63) | Preexistência da alma, encarnação e retorno à vida espiritual. |
| II | A sabedoria é contemplar o eterno e espiritual, não o material. | “Ajuntai tesouros no céu...” (Mt 6:20) | Primazia da vida espiritual sobre a material. |
| III | Só conheceremos plenamente a verdade após a morte; os verdadeiros filósofos se preparam para ela. | “A verdade vos libertará.” (Jo 8:32) | Faculdades espirituais ampliadas na vida espiritual. |
| IV | Almas impuras ficam presas à matéria e reencarnam; almas puras não reencarnam. | Purificação para entrar no “Reino dos Céus”. | Reencarnação como meio de progresso moral. |
| V | Um gênio (anjo) guia a alma e a conduz ao julgamento após a morte; depois ela reencarna. | Anjos guardiães (Mt 18:10). | Espíritos protetores e intervalos de erraticidade entre encarnações. |
| VI | “Demônios” (daïmon) são espíritos intermediários entre Deus e os homens. | Anjos como mensageiros de Deus. | Espíritos de diferentes ordens que transmitem a vontade divina. |
| VII | Cuidar da alma visando à eternidade, não apenas à vida terrena. | “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mc 8:36) | O bem-estar espiritual é prioridade. |
| VIII | Diferença entre alma pura e alma maculada pela matéria. | “Bem-aventurados os limpos de coração...” (Mt 5:8) | Graus de desmaterialização das almas. |
| IX | Se não houvesse vida futura, o mau sairia ganhando. | Parábola do rico e Lázaro. | Responsabilidade moral após a morte. |
| X | A alma leva consigo o caráter e as marcas dos atos da vida. | “A cada um segundo as suas obras.” (Mt 16:27) | A personalidade moral continua após a morte. |
| XI | Após a morte reencontramos conhecidos e continuamos relações. | Encontro dos justos no “Reino dos Céus”. | Continuidade dos laços de afeto no mundo espiritual. |
| XII | Nunca devolver o mal com o mal. | “Amai os vossos inimigos.” (Mt 5:44) | Lei de caridade e perdão. |
| XIII | Pelos frutos se conhece a árvore. | Idêntico no Evangelho (Mt 7:16). | Julgar atos pelo bem ou mal que produzem. |
| XIV | Apego à riqueza é perigoso. | “Não podeis servir a Deus e à riqueza.” (Mt 6:24) | Desapego como virtude necessária. |
| XV | Deus prefere uma alma virtuosa às oferendas materiais. | Parábola do fariseu e do publicano. | Superioridade da reforma íntima sobre rituais. |
| XVI | Amor universal como lei da natureza. | “Amai-vos uns aos outros.” (Jo 13:34) | Amor como força de união entre os seres. |
| XVII | Virtude é dom de Deus, mas pode-se questionar por que não é dada a todos. | Doutrina da graça. | Virtude conquistada por esforço e progresso espiritual. |
| XVIII | Notamos mais os defeitos alheios que os nossos. | “Vedes o argueiro no olho do próximo...” (Mt 7:3) | Autoconhecimento como base da reforma íntima. |
| XIX | Médicos falham porque tratam o corpo sem tratar da alma. | Jesus curava corpo e espírito. | Interação alma-corpo na saúde e na doença. |
| XX | O homem faz mais mal do que bem desde a infância. | “O espírito está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26:41) | Predominância do mal no mundo de provas e expiações. |
| XXI | Ser sábio é reconhecer o que não se sabe; não discutir com quem não quer ouvir. | “Não deis aos cães as coisas santas...” (Mt 7:6) | Prudência diante dos opositores e busca sincera da verdade. |
Prece de Encerramento do Evangelho no Lar
Senhor Jesus, Mestre amado,
Agradecemos por mais este momento de luz e aprendizado, por Tua presença em nosso lar e em nossos corações. Que os ensinamentos aqui refletidos fortaleçam nossa fé, iluminem nossos pensamentos e se transformem em atos de amor, caridade e perdão em nosso dia a dia.
Abençoa este lar, Senhor, envolve nossa família em Tua paz, e estende Tua luz a todos os lares da Terra,
aos que sofrem, aos que choram, aos que buscam o consolo. Despede-nos em paz, com o coração sereno e o espírito renovado, para que sejamos instrumentos do Teu bem onde estivermos.
Fica conosco, hoje e sempre.
Que assim seja.
Prece de Fluidificação da Água
Senhor Jesus,
Neste momento de paz e recolhimento,
Elevamos nossos pensamentos a Ti,
E pedimos que Tuas bênçãos desçam sobre esta água.
Que os bons Espíritos, sob Teu comando,
As energias de equilíbrio, paz e saúde,
De acordo com as necessidades de cada um de nós.
Sejamos beneficiados no corpo e no espírito,
Fortalecidos na fé, no amor e na esperança,
E auxiliados em nossa caminhada de renovação.
Pela luz do Teu Evangelho e pelo amparo invisível dos benfeitores.
Possam nela depositar os fluidos curadores,
Que ao tomarmos desta água,
Agradecemos, Senhor, por Tua presença em nosso lar,
Que assim seja.
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