Estudo O que é o Espiritismo
V.
34– Falais do exame dos livros em geral; acreditais que seja
materialmente possível a um jornalista ler e estudar todos os que lhe passam pelas
mãos, sobretudo quando se ocupam com teorias novas, que lhe seria preciso
aprofundar e verificar?
Seria o mesmo que exigir de um impressor que ele lesse todas as obras
saídas de sua prensa.
A. K. — A tão judicioso raciocínio não tenho outra resposta a dar senão
que, quando nos falta o tempo para fazer conscienciosamente uma coisa, é melhor
não fazê-la; é preferível produzir um só trabalho bom a fazer dez maus.
Esse trecho está no Diálogo V do livro "O Que é o Espiritismo?" de Allan Kardec, obra que busca esclarecer, de forma simples e didática, os fundamentos da Doutrina Espírita, por meio de diálogos com críticos, céticos e curiosos.
🔍 Contexto do trecho
Nesse diálogo, Allan Kardec conversa com um jornalista que critica o Espiritismo, mesmo sem o ter estudado profundamente. O jornalista se defende dizendo que não teria tempo suficiente para estudar a fundo todas as obras que lhe chegam às mãos, principalmente as que apresentam novas teorias, como é o caso do Espiritismo.
O jornalista usa como analogia o impressor, que imprime livros, mas não é obrigado a lê-los — e pergunta se seria razoável exigir que ele, jornalista, estudasse profundamente cada obra sobre a qual precisa comentar.
🧠 Explicação aprofundada
Kardec responde com firmeza e lucidez. Ele reconhece que o argumento parece razoável, mas rebate com um princípio ético e lógico:
"Quando nos falta o tempo para fazer conscienciosamente uma coisa, é melhor não fazê-la; é preferível produzir um só trabalho bom a fazer dez maus."
Esse comentário carrega três reflexões importantes:
1. Responsabilidade intelectual
Kardec está chamando a atenção para a responsabilidade moral e intelectual de quem emite julgamentos públicos. Se um jornalista escreve críticas ou opiniões sobre uma obra sem a conhecer bem, ele está desinformando em vez de informar. Isso vale especialmente para temas novos e complexos, como o Espiritismo, que exigem estudo sério e reflexão profunda para serem compreendidos corretamente.
2. Qualidade versus quantidade
Ao dizer que é melhor fazer um trabalho bem-feito do que vários mal feitos, Kardec destaca a importância da qualidade sobre a quantidade. Isso vale não só para o jornalismo, mas para qualquer área do conhecimento ou ação. Produzir em excesso, com superficialidade, diminui a credibilidade e o valor do que se faz.
3. Superficialidade como obstáculo ao progresso
Kardec alerta contra o risco de formar opiniões superficiais sobre assuntos novos, como a doutrina espírita. A preguiça de estudar a fundo e o impulso de criticar sem base sólida são obstáculos ao progresso do pensamento e da verdade. Ele mostra que, nesse caso, o silêncio é mais honesto do que uma crítica leviana.
📘 Reflexão espírita
Do ponto de vista espírita, esse trecho também nos convida a uma postura de:
-
Humildade intelectual – Reconhecer os limites do nosso conhecimento.
-
Estudo sério e contínuo – Sobretudo diante de ideias novas ou complexas.
-
Responsabilidade com a palavra – Especialmente quando ela influencia outras pessoas.
✅ Conclusão
Allan Kardec, com sabedoria, não apenas responde ao jornalista, mas nos deixa uma lição válida até hoje: não devemos emitir juízos sem conhecimento de causa. Se não temos tempo ou disposição para estudar algo com profundidade, é melhor não opinar sobre ele. É um chamado à consciência, à ética e à seriedade no trato com o conhecimento.
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