Estudo da Doutrina - Parte IV

Citemos um exemplo. Acontece, no mundo dos Espíritos, um fato singular, e que seguramente ninguém teria suspeitado, aquele dos Espíritos que não se crêem mortos. Bem! Os Espíritos superiores, que o conhecem perfeitamente, não vieram de forma alguma dizer por antecipação: “Há Espíritos que crêem ainda viver a vida terrestre; que conservaram seus gostos, seus hábitos e seus instintos”; mas provocaram a manifestação de Espíritos dessa categoria para nos fazer observá-los. Tendo então visto os Espíritos incertos de seu estado, onde afirmam que eles ainda são desse mundo, e crendo perambular em suas ocupações ordinárias, do exemplo se conclui a regra. A multiplicidade de fatos análogos tem provado que isso está longe de ser uma exceção, mas que é uma das fases da vida espiritual; ela permite estudar todas as variedades e as causas dessa singular ilusão; de reconhecer que essa situação é, sobretudo, própria dos Espíritos pouco avançados moralmente, e que é particular de certos gêneros de morte; que não é senão temporária, mas que pode durar dias, meses e anos. É assim que a teoria nasce da observação. Acontece o mesmo com todos os princípios da doutrina. O Espiritismo não coloca então princípios absolutos senão os que são demonstrados pela evidência, ou que ressaltam logicamente da observação. Marchando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrarem que está errado em um ponto, ele se modificará nesse ponto; se nova verdade se revela, ele a aceita.
Da mesma forma que a Ciência propriamente dita tem por propósito o estudo das leis do princípio material, o propósito especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual; ou, como esse último princípio é uma das forças da natureza, que reage incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, resulta que o conhecimento de um não pode ser completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a ciência se completam um ao outro: a ciência sem o Espiritismo se encontra impotente para explicar certos fenômenos somente pelas leis da matéria; o Espiritismo sem a ciência ficaria sem apoio e controle. O estudo das leis da matéria devia preceder aquele da espiritualidade, porque é a matéria que toca primeiro que tudo os sentidos. O Espiritismo vindo antes das descobertas científicas teria sido uma obra abortada, como tudo aquilo que vem antes de seu tempo.

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