Das mesas girantes à Codificação - Allan Kardec - Parte III
Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.
Por volta da mesma época Victor Hugo e Gerard de Nerval tornam-se crentes nas mesas girantes. Victor Hugo, durante seu exílio na ilha de Jersey (1851-1855), participou de inúmeras sessões de mesas girantes com seu amigo Auguste Vacquerie e passou a acreditar que havia entrado em contato com espíritos de falecidos, inclusive sua filha Léopoldine (morta por afogamento) e grandes escritores como Shakespeare, Dante, Racine e Molière. Por causa dessas experiências com as mesas, Victor Hugo se converteu ao espiritismo e, em 1867, clamou que a ciência deveria dar atenção e seriedade para os fenômenos das mesas: "A mesa girante ou falante foi bastante ridicularizada. Falemos claro. Esta zombaria é injustificável. Substituir o exame pelo menosprezo é cômodo, mas pouco científico. Acreditamos que o dever elementar da Ciência é verificar todos os fenômenos, pois a Ciência, se os ignora, não tem o direito de rir deles. Um sábio que ri do possível está bem perto de ser um idiota. Sejamos reverentes diante do possível, cujo limite ninguém conhece, fiquemos atentos e sérios na presença do extra-humano, de onde viemos e para onde caminhamos".
Os defensores do magnetismo animal, seguidores de Mesmer, inúmeras vezes acusado de charlatanismo, também se interessaram pelas mesas girantes desde o seu início e alegavam que o fenômeno estava intrinsecamente ligado ao magnetismo animal e ao suposto fluido magnético. Foi através deles que Allan Kardec tomou conhecimento das mesas girantes pela primeira vez em 1855. Em 1853 uma comissão nomeada pela Academia Francesa de Ciências, chefiada pelo químico Michel Eugène Chevreul, estudou os fenômenos espirituais. O relatório de Chevreul, apresentado à Academia em 1854, concluiu que os fenômenos das mesas eram causados por leves movimentos inconscientes das mãos dos participantes.
Allan Kardec, analisando esses fenômenos, concluiu que não havia nada de convincente no método dos céticos, porque se podia acreditar num efeito da eletricidade, cujas propriedades eram pouco conhecidas pela ciência de então. Ele desenvolveu métodos para se obter respostas mais desenvolvidas por meio das letras do alfabeto: a mesa batendo um número de vezes corresponderia ao número de ordem de cada letra, chegando, assim, a formular palavras e frases respondendo às perguntas propostas. Kardec concluiu que a precisão das respostas e sua correlação com a pergunta não poderiam ser atribuídas ao acaso. O ser misterioso que assim respondia, quando interrogado sobre sua natureza, declarou que era um espírito ou gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações a seu respeito. A partir dessas comunicações é que surge o seu primeiro livro, O Livro dos Espíritos, em 1857.
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