Espiritismo


Espiritismodoutrina espíritakardecismo ou espiritismo kardecista é uma doutrina religiosafilosóficamediúnica e moderno espiritualista codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que usava o pseudônimo Allan Kardec. Ele criou o termo "espiritismo" em 1857 e o definiu como "a doutrina fundada sobre a existência, as manifestações e o ensino dos espíritos". Mesmo não sendo reconhecido como ciência, Kardec dizia que o espiritismo alia aspectos científicos, filosóficos e religiosos, buscando uma melhor compreensão não apenas do universo tangível, mas também do universo a esse transcendente. Suas primeiras experimentações com o mundo dos espíritos aconteceram durante seus estudos envolvendo o magnetismo. Foi nesse período em que realizou as sessões de “mesas girantes”, onde acontecia a movimentação de objetos sem algum tipo de intervenção perceptível. O interesse por esses fenômenos aprofundou seu interesse pelo mundo dos desencarnados, dando origem à obra “O Livro dos Espíritos”. O livro, que hoje fundamenta os ensinamentos do espiritismo, foi o primeiro passo de uma vida inteiramente dedicada ao conhecimento e à explicação dos fenômenos espíritas. Depois de observar e analisar as mesas girantes, o professor Rivail ficou intrigado com o fato de que como poderia a mesa se mover se ela não possui músculos ou formular respostas se ela não tem um cérebro. E foi o próprio agente causador do fenômeno que teria respondido: "Não é a mesa que pensa! Somos nós, as almas dos homens que viveram na Terra". Rivail foi então estudar este e outros fenômenos, tal como a chamada "incorporação" e a mediunidade. A doutrina é baseada em cinco "obras básicas", chamadas de Codificação Espírita, publicada por Kardec entre 1857 e 1868. A codificação é composta por O Livro dos EspíritosO Livro dos MédiunsO Evangelho segundo o EspiritismoO Céu e o Inferno e A Gênese. Somam-se ainda as chamadas obras "complementares", como O Que é o Espiritismo?Revista Espírita e Obras Póstumas. Seus seguidores consideram o espiritismo uma doutrina voltada para o aperfeiçoamento moral do homem e acreditam na existência de um Deus único, na possibilidade de comunicação útil com os espíritos através de médiuns e na reencarnação como processo de crescimento espiritual e justiça divina. De acordo com o Conselho Espírita Internacional, o espiritismo está representando em 36 países ao redor do mundo, sendo mais difundido no Brasil, onde conta com cerca de 3,8 milhões de adeptos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e mais de 30 milhões de simpatizantes, de acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB). A religião é considerada uma das oito principais do mundo e tem como alguns ideais a reencarnação, a imortalidade da alma e a mediunidade. Outra característica marcante do espiritismo envolve a realização dos passes em que um membro dotado de maior sensitividade procura harmonizar o estado psíquico e emocional de outros praticantes. Este tipo de procedimento também possuiu outro desdobramento no qual alguns espíritas conseguem intervir sobre alguns males físicos por meio da cura espiritual. Os espíritas também são conhecidos por influenciar e promover um movimento de assistência social filantrópicaSegundo os princípios espíritas, o indivíduo deve praticar a caridade como uma forma de estabelecer a melhora de sua condição espiritual presente e de suas posteriores reencarnações. Este princípio se baseia na ideia de que a humanidade faz parte de um estágio de evolução espiritual. Este princípio se sustenta na premissa de que o mundo terreno integra outra infinidade de mundos onde os espíritos habitam graus de evolução superior e inferior. Esse mesmo princípio evolucionista também fundamenta a explicação para o sofrimento humano, sendo este compreendido como resultado da intervenção de espíritos ou das ações ruins praticadas em outras reencarnações. SOUSA, Rainer Gonçalves. "Espiritismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/espiritismo.htm. Acesso em 19 de maio de 2020.
O termo espiritismo (do francês antigo "spiritisme", onde "spirit": espírito + "isme": doutrina) surgiu como um neologismo, mais precisamente uma palavra-valise, criada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (conhecido por Allan Kardec) para nomear especificamente o corpo de ideias por ele sistematizadas em O Livro dos Espíritos (1857). Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos; espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia.(...) Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a acepção que lhe é própria. — Allan Kardec.
termo "kardecista" é repudiado por parte dos adeptos da doutrina que reservam a palavra "espiritismo" apenas para a doutrina tal qual codificada por Kardec, afirmando não haver diferentes vertentes dentro do espiritismo, e denominam correntes diversas de "espiritualistas". Estes adeptos entendem que o espiritismo, como corpo doutrinário, é um só, o que tornaria redundante o uso do termo "espiritismo kardecista". Assim, ao seguirem os ensinamentos codificados por Allan Kardec nas obras básicas (ainda que com uma tolerância maior ou menor a conceitos que não são estritamente doutrinários, como a apometria), denominam-se simplesmente "espíritas", sem o complemento "kardecista". A própria obra desaprova o emprego de outras expressões como "kardecista", definindo que os ensinamentos codificados, em sua essência, não se ligam à figura única de um homem, como ocorre com o cristianismo ou o budismo, mas a uma coletividade de espíritos que eles acreditam que se manifestaram através de diversos médiuns naquele momento histórico, e que se esperava que continuassem a comunicar, fazendo com que aquele próprio corpo doutrinário se mantivesse em constante processo evolutivo. Outra parcela dos adeptos, no entanto, considera o uso do termo "kardecismo" apropriado.
As expressões nasceram da necessidade de alguns em distinguir o "espiritismo" (como originalmente definido por Kardec) dos cultos afro-brasileiros, como a Umbanda. Estes últimos, discriminados e perseguidos em vários momentos da história recente do Brasil, passaram a se autointitular espíritas (em determinado momento com o apoio da Federação Espírita Brasileira), num anseio por legitimar e consolidar este movimento religioso, devido à proximidade existente entre certos conceitos e práticas destas doutrinas. Segundo seguidores e simpatizantes da Doutrina Espírita, os fenômenos mediúnicos seriam universais e teriam sempre existido, inclusive com fartos relatos na Bíblia. Entre outros, os espíritas citam como exemplos mediúnicos bíblicos a proibição de Moisés à prática da "consulta aos mortos", que seria uma evidência da crença judaica nessa possibilidade, já que não se interdita algo irrealizável;a consulta de Saul, primeiro rei do antigo Reino de Israel, à Bruxa de Endor, em I Samuel 28:1-25, que vê e ouve o Espírito desencarnado de Samuel, o último dos juízes de Israel e o primeiro dos profetas registrados na história do seu povo; a comunicação de Jesus com Moisés e Elias no Monte Tabor na Transfiguração de Jesus (Mateus 17:1-9).Nascido no século XIX, no dia 18 de Abril de 1857, com a publicação de O Livro dos Espíritos, o espiritismo se estruturou a partir de pretensos diálogos estabelecidos com espíritos desencarnados que, se manifestando por meio de médiuns, discorreram sobre temas científicos, religiosos e filosóficos sob a ótica da moral cristã, ou seja, tendo por princípio o amor ao próximo, trazendo à luz novas perspectivas sobre diversos temas de grande relevância filosófica e teológica. Desta forma foi estabelecido um dos preceitos básicos do espiritismo que é a importância da caridade, (Lema: Fora da caridade não há salvação) entendida como sendo a benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas. A doutrina espírita se propõe a estabelecer um diálogo entre a ciência, a filosofia e a religião, visando à obtenção de uma forma original que, a um só tempo, fosse mais abrangente e mais profunda, para desta forma melhor compreender a realidade. Kardec sintetiza o conceito com a célebre frase: "Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade". 

Fundamentos principais

Quadro retratando a Evolução espiritual, segundo a ótica da Doutrina Espírita
A doutrina espírita, de modo geral, fundamenta-se nos seguintes pontos (princípios):
  • Existência e unicidade de Deus, rejeitando o dogma da Santíssima Trindade (Conforme está na primeira questão de O Livro dos Espíritos - "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".
  • O universo é criação de Deus, incluindo todos os seres racionais (Jesus, por exemplo) e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais, que por sua vez, todos estão destinados a lei do progresso;
  • Existência e imortalidade do espírito, compreendido como individualidade inteligente da Criação Divina que atua sobre a matéria através de um conectivo "semimaterial" denominado de perispírito, e assim como o espírito, é indestrutível;
  • Volta do espírito à matéria (reencarnação), tantas vezes quanto necessário, como o mecanismo natural para se alcançar o aperfeiçoamento material e moral. No entanto, para a doutrina, a perfeição que a Humanidade é suscetível atingir é relativa pois apenas Deus possui a perfeição absoluta, infinita em todas as coisas. Os espíritas rejeitam a crença na metempsicose;
  • Conceito de "criação igualitária" de todos os espíritos, "simples e ignorantes" em sua origem, e destinados invariavelmente à perfeição, com aptidões idênticas para o bem ou para o mal, dado o livre-arbítrio;
  • Possibilidade de comunicação entre os espíritos encarnados ("vivos") e os espíritos desencarnados ("mortos"), por meio da mediunidade (também denominada comunicabilidade dos espíritos). Essa comunicação é realizada com o auxílio de pessoas com determinadas capacidades - os médiuns como, por exemplo, na chamada "escrita automática" (psicografia);
  • Lei de causa e efeito, compreendida como mecanismo de retribuição ética universal a todos os espíritos, segundo a qual nossa condição atual é resultado de nossos atos passados e nossos pensamentos, palavras e atos constroem diariamente nosso futuro (Quem semeia o bem, colhe o bem. Quem semeia o mal, colhe o mal)
  • Pluralidade dos mundos materiais habitados: a Terra não é o único planeta com vida inteligente no universo, sendo possível a reencarnação em outros orbes;
  • Jesus, criado por Deus, é o guia e modelo para toda a humanidade. Segundo o espiritismo, a moral cristã contida nos evangelhos canônicos é o maior roteiro ético-moral de que o homem possui, e a sua prática é a solução para todos os problemas humanos e o objetivo a ser atingido pela humanidade.
  • Fora da caridade não há salvação. Para o espiritismo a caridade consiste em benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas.
Além disso, podem-se citar como características secundárias:
  • A noção de continuidade da responsabilidade individual por toda a existência do espírito;
  • Progressividade do princípio espiritual dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
  • Ausência total de hierarquia sacerdotal;
  • Abnegação na prática do bem, ou seja, não se deve cobrar pela prática da caridade, nem o fazer visando a segundas intenções. Toda a prática espírita é gratuita, como orienta o princípio moral do evangelho: “Dai de graça o que de graça recebestes”;
  • Uso de terminologia e conceitos próprios, como, por exemplo, perispíritomediunidadeCentro Espírita;
  • Total ausência de exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, horóscoposcartomancia, pirâmides, cristais, amuletostalismãs, culto ou oferenda a imagens ou altares, danças, procissões ou atos semelhantes, paramentosandores, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso e fumo, práticas exteriores ou quaisquer sinais materiais;
  • Ausência de rituais institucionalizados, a exemplo de batismo, culto ou cerimônia para oficializar casamento;
  • Incentivo ao respeito para com todas as religiões e opiniões.
  • Ter uma fé raciocinada, rejeitando a fé cega que não utiliza o raciocínio lógico em suas crenças.
Simbologia
O espiritismo não possui um símbolo oficial e prioriza uma linguagem denotativa, no entanto, o ramo de videira presente em O Livro dos Espíritos - única gravura usada por Kardec na Codificação Espírita - é considerado pela doutrina como a imagem metafórica perfeita da relação entre o espírito e o corpo humano, devido a esse trecho: Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos.
— Prefácio de O Livro dos Espíritos.

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