O Cabailon - Edição Definitiva e Comentada

 O VERDADEIRO AUTOR 
Embora O Caibalion tenha sido impresso e seus direitos autorais tenham sido registrados pela Yogi Publication Society em 1908, um anúncio de quatro páginas dessa obra, incluindo vastos excertos e um sumário idêntico, foi publicado na contracapa do livro Mystic Christianity, [14] de Yogue Ramacharaca, o pseudônimo mais famoso e verificável de Atkinson, um ano antes. É seguro presumir que, no mínimo, as partes principais de O Caibalion já estivessem concluídas por volta de 1907. [15] Textos anteriores sobre alguns dos Sete Princípios Herméticos já podiam ser encontrados em 1903 em The Science of Breath, escrito por Atkinson como Yogue Ramacharaca. Apesar de seu verniz de antiguidade e de sua automitologização, há no livro referências que também situam sua criação em um momento específico do começo do século XX. Os usos frequentes que o autor de O Caibalion faz de “ciência moderna”, para confirmar antigos princípios Herméticos, sobretudo no que diz respeito a átomos e elétrons, apontam para descobertas feitas no final do século XIX. Os livros que são mencionados em O Caibalion, quer mediante passagens, quer por referências diretas, também pertencem ao mesmo período: a obra The Law of Psychic Phenomena, de Thomas J. Hudson (1893), The Science of Breath and Philosophy of the Tatwas, de Rama Prasada (1890), assim como as obras de Herbert Spencer e William James sobre filosofia na mesma década e nos primórdios do século XX. Essas referências não apenas fornecem uma perspectiva temporal às influências sobre O Caibalion, como também nos permitem inferir que ele tenha um único autor específico em William Walker Atkinson. Atkinson mencionaria Thomas J. Hudson dois anos depois, em um livro sobre telepatia; usaria o enunciado “as forças mais sutis da natureza” em três livros posteriores, e citaria Herbert Spencer em pelo menos doze de seus outros livros, desde seu Crucible of Modern Thought até vários títulos escritos com o pseudônimo de Yogue Ramacharaca. Na pele de Ramacharaca, Atkinson também usou a frase “leite para as crianças, carne para os homens” em seu Advanced Course in Yogi Philosophy and Oriental Occultism, a mesma frase que os Três Iniciados usariam na introdução de O Caibalion. Atkinson recomendou o romance metafísico Zanoni [16] no Capítulo 8 de O Caibalion, e mais tarde faria o mesmo em um livro sobre a arte de vender, escrito com outro pseudônimo, Theron Q. Dumont. A própria estrutura de O Caibalion, seus Sete Princípios Herméticos fundamentais, também seria revisitada e reelaborada várias vezes por Atkinson nas duas décadas seguintes: as Sete Leis mencionadas no livro anônimo de 1909, The Arcane Teaching: os Sete Princípios Cósmicos em A Doutrina Secreta dos Rosa-Cruzes, de 1918; e, como tema do livro anteriormente não publicado, The Seven Cosmic Laws, escrito no fim de sua vida (e republicado neste volume). Esses exemplos não apenas ligam os pseudônimos ou obras anônimas de Atkinson entre si, como também associam Atkinson a O Caibalion como seu único autor. Mais importante sobre as diversas ligações entre outras obras de William Walker Atkinson e O Caibalion é o fato de essas semelhanças de conteúdo, formato e material de origem não existirem em nenhum outro escritor. Atkinson tinha uma vasta gama de interesses, e todos giravam em torno do tema central e recorrente encontrado em todas as suas obras: o poder dinâmico e transformador da vontade e da mente. Como demonstram seus escritos, não há dúvida de que ele mergulhou fundo na Teosofia, no New Thought, nos primeiros escritos sobre psicologia, hipnotismo e sugestão, em filósofos como William James e em textos contemporâneos sobre a ciência de sua época. Igualmente significativo é o fato de cada uma dessas diversas e idiossincráticas vertentes estar presente, de uma forma ou de outra, nas páginas de O Caibalion, e nesse livro também não encontramos nada que esteja em circulação fora da esfera de conhecimentos de Atkinson, como a astrologia, o Tarô ou a magia ritual. Quando alinhado às outras obras de Atkinson desse mesmo período, o estilo de O Caibalion é compatível e uniforme com elas, empregando o mesmo tom, a mesma voz e peculiaridades de sintaxe e escolha de palavras. Além da riqueza de indícios contextuais que, em O Caibalion, apontam para William Walker Atkinson como seu único autor, há também outras formas de comprovação mais concretas. Na edição de 1912 de Who’s Who in America, o verbete biográfico escrito pelo próprio Atkinson arrola O Caibalion como uma de suas obras. Cinco anos depois, na introdução à primeira edição francesa de O Caibalion, o tradutor da edição inglesa, Albert Caillet, descreveu o “livrinho” como obra “muito profunda por baixo de sua aparente simplicidade”, mas assegurou aos leitores que o autor de O Caibalion, “le Maître psychiste américain, W. W. Atkinson”, tinha plena consciência do que havia escrito. [17] Até hoje, não houve nenhuma outra reivindicação autorial de O Caibalion que se tenha mostrado tão clara, pública e verificável quanto esta. Boa parte do legado de O Caibalion tem sido um relato de identidade equivocada e consequências involuntárias, desde as conclusões mais abrangentes até os menores detalhes. Nem mesmo sua data de publicação ficou a salvo de discussões. A partir de 1940, os editores de O Caibalion começaram a registrar a data de copyright como 1912, em vez 1908, a data original, apesar da existência de registros claros da primeira, mas nenhum da segunda. Uma vez que o copyright durou por um período inicial de 28 anos durante essa época, e a inobservância de sua renovação colocaria a obra sob domínio público, seria difícil vê-la como qualquer coisa que não uma tentativa de manter o controle depois de um erro administrativo, mas a contínua reimpressão de O Caibalion, com os direitos autorais de 1912 e 1940, ajudaram a apagar parcialmente a memória de sua data de publicação original. O endereço “Templo Maçônico, Chicago” na folha de rosto de O Caibalion levou muitas pessoas a fazerem falsas ligações entre a Maçonaria e O Caibalion. Embora os franco-maçons de fato ocupassem o andar superior do edifício do Templo Maçônico, o local não era uma mera Loja Maçônica, mas, com seus 22 andares, tratava-se do primeiro arranha-céu de Chicago. A editora original de O Caibalion, a Yogi Publication Society, era apenas uma dentre mais de quinhentas empresas que alugavam espaços para escritórios no edifício, e não havia franco-maçons nem yogues entre os proprietários. Originalmente criada em 1895 por Sydney Flower, o primeiro editor da revista New Thought, a Yogi Publication Society foi vendida à sua secretária, Olive Bedwell, dois anos depois. Com a ajuda de Arthur Gould, seu marido, Bedwell montou uma livraria na qual personalidades locais da cena ocultista da Chicago da virada do século se reuniam. Alguns livros foram eventualmente publicados, e a Yogi Publication Society foi dirigida em parceria com a Advanced Thought, com as duas editoras compartilhando endereços e alternando direitos de gestão entre os dois cônjuges até a década de 1920, quando a Advanced Thought deixou de operar devido a uma série de problemas, permitindo que a Yogi Publication Society continuasse atuante até nossos dias. 

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