O Cabailon - Edição Definitiva e Comentada


Na condição de livro, O Caibalion tem sido considerado como muitas coisas distintas, mas, em essência, o livro afirma-se como uma exegese, explicando e organizando uma obra mais antiga, também conhecida como O Caibalion. O Caibalion do século XX presta uma deferência muito respeitosa ao antigo Caibalion, o que se depreende claramente de sua natureza de coletânea ou compilação de “máximas, axiomas e preceitos”, no contexto de uma tradição secreta, que foram transmitidos “dos lábios aos ouvidos” e nela permaneceram. Ao contrário de quase todas as outras exegeses que explicam uma obra ou texto sagrado, como, por exemplo, as que fazem comentários sobre diferentes Evangelhos ou análises profundas de sutras budistas, o material de referência para O Caibalion de 1908, apesar de todos os mitos e conhecimentos de natureza tradicional que já estão presentes na introdução, parece nunca ter existido. O Caibalion argumenta a partir de um centro que ou foi imaginado, ou usado exclusivamente como um artifício. A única comparação literária com isso talvez seja O Livro Perdido de Dzyan, um volume sobre cosmologia que se imagina ser o mais antigo do mundo, e que a fundadora da Teosofia, Helena Petrovna Blavatsky, afirmava ter lido e memorizado em mosteiros de lamas tibetanos. Sua obra fundamental, A Doutrina Secreta [12] (1888), pode ser considerada como um tipo de exegese de O livro Perdido de Dzyan, [13] embora alguns eruditos da obra de Blavatsky o vissem mais como uma reformulação de textos já existentes. William Walker Atkinson era seu grande admirador, e vestígios teosóficos visíveis podem ser encontrados na maioria de seus livros. Se ao próprio Atkinson não ocorreu o artifício de escrever um comentário sobre uma obra imaginária, o Livro Perdido de Dzyan é uma fonte tão boa quanto qualquer outra. A comparação mais próxima de um antigo Caibalion imaginário teria sido a Tábua de Esmeralda Hermética, um texto fundamental para a alquimia e o misticismo na Idade Média, cuja forma mais antiga dentre as conhecidas é um texto em latim produzido no mundo árabe durante o século X. As breves treze linhas da Tábua de Esmeralda apresentam uma estrutura semelhante às Sete Leis Herméticas de O Caibalion, e ambas empregam o famoso enunciado Hermetista segundo o qual “assim em cima como embaixo”. O conteúdo de O Caibalion traz diferenças muito distintas da historicamente famosa e amplamente difundida Tábua de Esmeralda para estabelecermos, entre ambas, uma ligação que não se estenda para além de uma influência sutil e limitada. A própria palavra “Caibalion” é de difícil entendimento, nunca tendo sido usada antes de aparecer como título do livro publicado por Atkinson em 1908. O sufixo -ion parece sugerir uma origem grega mais antiga da palavra, e aponta para uma possivel ligação com o corpus primordial dos textos Herméticos escritos em grego, mas não tem nenhum sentido na língua. Um pequeno grupo de pesquisadores já especulou que a palavra “Caibalion” talvez tenha sido extraída da figura da deusa grega e romana Cibele, ou que talvez se refira à Cabala do misticismo judaico, mas a falta total de correspondência ou referência a qualquer dessas possibilidades sugere que, quando muito, essas especulações só remetem a uma coincidência. Se esse título tem algum significado, é possível que seja o de um anagrama. A inversão das primeiras sílabas da palavra, para criar “Al-kyb-ion” sugere “Alquimia”, e isso se ligaria à tese central de Atkinson, para quem a essência dos Preceitos Herméticos e o sentido mais profundo da própria tradição alquímica se processam na mente. Segundo Atkinson, a magia e o misticismo verdadeiros tinham por base a transmutação mental.  

Comentários

Postagens mais visitadas