Reencarnação Parte 8
O ambiente de ampla divulgação classicista na Europa do século XV, através das ideias platônicas e pitagóricas de metempsicose, associadas às obras herméticas e cabalísticas, fermentou no Renascimento a ideia da reencarnação e transmigração das almas por neoplatonistas como Marsilio Ficino e Isaac Abarbanel Giordano Bruno também elaborou um sistema de metempsicose. Nos séculos XVI e XVII, a chamada "palingenesia" (do grego, paliggenesía; palín = de novo, genesia = nascer) era considerada uma doutrina científica entre os paracelsianos e alquimistas, mas ela assumia o caráter daquilo que eles acreditavam ser a reconstituição corpórea da alma a partir de reações químicas (vegetações metálicas cristalizadas que se assemelhavam a plantas, como a Árvore de Diana, ou outras reações como a serpente de faraó), não significando a reencarnação tal qual entendida hoje. Posteriormente no século XVII, a influência renascentista neoplatônica e mística propagou a doutrina da transmigração entre os platonistas de Cambridge, como se encontra, por exemplo, pela condessa Anne Conway e em Francisco van Helmont, com os quais Leibniz era familiar. Com o avanço da astronomia, em busca de um plano divino para os outros planetas, uma palingenesia cósmica começou a ser esboçada, à semelhança das noções gregas de que a alma transmigrava em diferentes mundos, vista por exemplo nas sugestões de Christiaan Huygens em Kosmotheoros (1698) e posteriormente adotada por Louis-Sébastien Mercier em Songes et Visions Philosophiques (1768) e popularizada pelo discípulo de Kant Johann Gottfried Herder. Em meados do século XVIII, o biólogo e filósofo suíço Charles Bonnet, influenciado pelas ideias de Leibniz como harmonia pré-estabelecida, melhor dos universos possíveis e teodiceia, desenvolveu uma teoria reencarnatória de evolução das almas do tipo pré-formacionista, a qual ele se referiu como palingenesia e foi exposta em Palingénesie philosophie (1769); segundo ele, nenhuma vida era perdida e evoluía transmigrando ao longo da cadeia dos seres num progressivismo teleológico: "nada é perdido nos imensos celeiros da natureza; tudo nela tem seu uso, seu objetivo e o melhor fim possível". Suas ideias influenciaram Joseph de Maistre e Pierre-Simon Ballanche, e a partir deste último foram passadas aos saint-simonianos Pierre Leroux e Jean Reynaud. Ballanche propôs uma "paligenesia social", em que não eram as almas individuais que renasciam, mas o coletivo da humanidade ao longo da história. Já Leroux e Reynaud divulgavam a transmigração individual, apoiando nela os ideais reformistas de progresso social, pois consideraram que a palingenesia individual e coletiva serviria de guia moral e social que promovesse o igualitarismo e a solidariedade, difundindo uma regeneração espiritual em substituição aos dogmas de punição eterna dos sistemas religiosos vigentes. Leroux defendia que a transmigração de vidas sucessivas ocorria na Terra apenas entre seres humanos e que a memória individual desapareciam de uma para outra, enquanto Reynaud considerava que todas as formas de vida evoluíam e que a alma acumulava experiência de aprendizado em vidas passadas. Este último popularizou a metempsicose individual como sendo encontrada no druidismo e se tornou um fundador das ideias de reencarnação e renascença céltica neo-druídica na França na primeira metade do século XIX. Reynaud impactou sobre Jules Michelet e diversos pensadores e escritores românticos de seu tempo Charles Fourier foi outro que também desenvolveu uma doutrina de metempsicose, mas não foi tão difundida para além de seu círculo interno de discípulos. Outra frente de difusão de ideias reencarnacionistas surgiu com a influência do orientalismo indianista, através da popularização inaugural de traduções de textos como o Bhagavad Gita e Ramayana, que atraíram a atenção de pensadores europeus para a doutrina na Alemanha entre os poetas de Weimar, como Herder, Goethe e Schiller; de William Jones, na Inglaterra; e que também se espalhou amplamente na França. Benjamin Franklin pareceu sustentar uma visão pessoal de reencarnação em 1785: "Digo que, quando não vejo nada aniquilado e nem sequer uma gota de água desperdiçada, não posso suspeitar da aniquilação de almas ou acreditar que Ele [Deus] padeça do desperdício diário de milhões de mentes prontas que agora existem, e que se ponha ao problema contínuo de fazer outras novas. Assim, encontrando-me a existir no mundo, acredito que, de uma forma ou de outra, sempre existirei; e com todos os inconvenientes aos quais a vida humana está sujeita, não me oponho a uma nova edição minha; no entanto, que a errata da última possa ser corrigida".
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