Musicoterapia
Musicoterapia é uma técnica terapêutica que se utiliza da música para tratar seus pacientes. Trata-se de um híbrido entre arte e saúde e serve para promover a comunicação, expressão e aprendizado. Além disso, busca facilitar a organização e a forma de se relacionar dos seus pacientes. Os utentes não precisam de ter formação ou treino musical para recorrer à musicoterapia. O musicoterapeuta atende a necessidades específicas de cada pessoa, quer sejam físicas, emocionais, mentais, sociais ou cognitivas, para facilitar expressão, relacionamento, aprendizagem, organização e mobilização. A musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do indivíduo para que ele ou ela alcance uma melhor qualidade de vida através da prevenção, reabilitação ou tratamento de doenças.
A musicoterapia é internacionalmente reconhecida como uma atividade clínica e regulamentada no âmbito das profissões da saúde. A investigação, prática clínica, educação e formação clínica estão definidas por standards de entidades profissionais de acordo com contextos culturais, sociais e políticos. Atualmente, existe um sistema de certificação com emissão de licença profissional para musicoterapeutas no Reino Unido, na Noruega, na Austrália e nos EUA.
Os musicoterapeutas trabalham com uma grande variedade de problemáticas. Incluem-se utentes com dificuldades motoras, autistas, pacientes com deficiência mental, paralisia cerebral, dificuldades emocionais, pacientes psiquiátricos, gestantes e idosos. O trabalho musicoterápico pode ser desenvolvido dentro de equipas de saúde multidisciplinares, em conjunto com médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e educadores que ajudam no tratamento na musicoterapia. Também pode ser um processo autônomo realizado em consultório. Recentemente, uma das maiores aplicações de sucesso reconhecido da musicoterapia tem sido o tratamento da dor crônica e estresse pós-traumático.
Indicado aos pacientes que requerem uma intervenção individualizada e que não se inserem em contextos institucionais. Estas intervenções são normalmente realizadas em consultórios musicoterapêuticos particulares ou em clínicas. Como exemplo, beneficiam deste contexto especialmente pacientes vítimas de patologias da depressão e de perturbações da relação e da comunicação (por exemplo perturbações do espectro do autismo).
O desenvolvimento pessoal através da música pode realizar-se neste contexto individual e particular.
As intervenções musicoterapêuticas realizadas em hospitais, maternidades e centros de saúde, atuam em complementaridade com a reabilitação física e com equipes multidisciplinares. Decorrem de duas formas distintas: consultas externas ou internamentos. Os utentes deste contexto recorrem ao musicoterapeuta para gestão da dor, reabilitação da motricidade, cuidados paliativos e apoio emocional.
Há intervenções que se dedicam especificamente à gravidez e ao parto (à pré-natalidade e à perinatalidade).
Bebês prematuros são aqueles cujo período gestacional foi de 37 semanas ou menos. Eles estão sujeitos ao risco de numerosos problemas de saúde, como padrões anormais de respiração, baixo índice de gordura e de tecido muscular corporal, além de problemas de alimentação. A coordenação para sugar e respirar não é plenamente desenvolvida, tornando a alimentação um desafio. A melhora dos bebês prematuros quando eles saem da unidade intensiva de cuidado neonatal está diretamente relacionada com os estímulos que eles receberam, como por exemplo a musicoterapia. A musicoterapia nas unidades intensivas de cuidado neonatal utiliza basicamente cinco técnicasː
- música gravada ou ao vivoː é efetiva em promover a regularidade respiratória e os níveis de saturação de oxigênio, além de diminuir os sinais de angústia neonatal. Como os bebês prematuros têm sentidos ainda imaturos, a música é sempre tocada em um ambiente calmo e controlado, tanto com base em som gravado quanto com base em vocalizações ao vivo (embora esta última modalidade tenha mostrado ser mais efetiva). A música ao vivo também reduz as respostas fisiológicas dos pais. Estudos mostraram que a combinação de música ao vivo, como a de harpa, com o método mãe canguru reduziu os níveis de ansiedade materna. Isso permite aos pais, especialmente as mães, ter mais tempo para se entrosar com os bebês prematuros. O canto de vozes femininas é mais efetivo em acalmar os bebês prematuros do que a música instrumental.
- promoção do saudável reflexo de sucçãoː usando uma chupeta equipada com um circuito integrado que ativa um leitor de CD fora da incubadora neonatal, os musicoterapeutas podem promover um reflexo de sucção mais poderoso, ao mesmo tempo em que aliviam a percepção de dor do bebê. O Gato Box é um pequeno instrumento retangular que estimula o som de batida de coração pré-natal de uma maneira suave e rítmica, e que também é efetivo em auxiliar o comportamento de sucção. O musicoterapeuta usa seus dedos para bater no tambor, ao invés de usar o martelo. O ritmo estimula o movimento do bebê ao se alimentar, bem como saudáveis padrões de sucção. Isso ajuda o bebê a desenvolver a saudável coordenação entre as ações de sugar e respirar, auxiliando no seu ganho de peso. Quando essa técnica é efetiva, os bebês podem sair mais cedo do hospital.
- música e estimulação multimodalː combinando-se música e estimulação multimodal, os bebês podem sair mais cedo da unidade intensiva de cuidado neonatal do que aqueles que não receberam a terapia. A estimulação multimodal inclui a aplicação de estímulos táteis, vestibulares, auditivos e visuais que auxiliam o desenvolvimento do bebê prematuro. A combinação de música e estimulação multimodal ajuda os bebês prematuros a dormir e a conservar energia vital necessária para se ganhar peso mais rapidamente. Estudos mostram que as meninas respondem mais positivamente aos estímulos multimodais do que os meninos. A voz é muito usada pelos pais para se entrosar com os bebês, mas existem outros meios, como o disco de oceano (instrumento circular que imita os sons fluidos do útero) e o gato box. O disco de oceano melhora os ritmos cardíacos deficientes, promove padrões de sono saudáveis, diminui a frequência respiratória e melhora o comportamento de sucção.
- estimulação infantilː este tipo de intervenção usa estimulação musical para compensar a falta de uma estimulação sensorial ambiental normal nas unidades intensivas de cuidado neonatal. O som ambiente na unidade neonatal às vezes é estressante, mas a musicoterapia pode atenuar estímulos sonoros não desejados, tornando o ambiente mais calmo e reduzindo as complicações de crianças de alto risco ou com dificuldades de ganho de peso. O entrosamento entre pais e filhos também pode ser afetado pelos sons da unidade neonatal, atrasando as interações entre pais e bebês prematuros. A musicoterapia cria um ambiente calmo e relaxado, permitindo que os pais falem e passem o tempo com seus filhos enquanto eles estão na incubadora neonatal.
- entrosamento entre pais e bebêsː os terapeutas estimulam os pais a cantar para os filhos, bem como a lhes propiciar técnicas de cuidado em domicílio. Cantar cantigas de ninar pode relaxar e diminuir a frequência cardíaca dos bebês prematuros. Isso permite que eles preservem energia, favorecendo seu crescimento. Esse tipo de canção também favorece o sono dos bebês, o seu ganho de peso e a sua alimentação. Ouvir a voz da mãe na incubadora aumenta o nível de saturação de oxigênio dos bebês.
O uso da música como método terapêutico vem desde o início da história humana. Os Papiros de Lahun contêm o primeiro registo escrito sobre a utilização terapêutica da música até hoje encontrado. Musicoterapia era usada nos templos egípcios. A musicoterapia foi praticada nos tempos bíblicos quando Davi tocou harpa para livrar o rei Saul de um mau espírito. Outros registros a esse respeito podem ser encontrados na obra de filósofos gregos pré-socráticos. Apolo era o deus grego da música e da medicina. Acreditava-se que Esculápio curava doenças da mente através de música e canções. Platão dizia que a música afetava as emoções e poderia influenciar o caráter de um indivíduo. Aristótelesensinava que a música afetava a alma, e descrevia a música como uma força capaz de purificar as emoções. Por volta de 400 a.C., Hipócrates tocava música para doentes mentais. Aulo Cornélio Celso advogava o som de címbalos e água corrente para o tratamento de desordens mentais.
A partir do século XX a musicoterapia começa a receber mais fundamentação científica e uma organização sistemática facilitadora de futuros resultados esperados. Médicos, psiquiatras e músicos apresentaram ocasionalmente incidentes de tratamentos com recurso à música em revistas científicas e em literatura. Em 1903, Eva Vescelius funda a National Medical Association of New York e publica "Music and Health" com instruções para o tratamento de febre, insónia e outras doenças com a ajuda da música. A música Margaret Anderson e a enfermeira Isa Maud Ilsen oferecem serviços de musicoterapeuta a soldados canadianos durante a Primeira Guerra Mundial e em 1919 dão a primeira aula oficial de musicoterapia na Universidade Columbia.
A sistematização dos métodos utilizados começou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com pesquisas realizadas nos Estados Unidos. O primeiro curso profissionalizante universitário de musicoterapia foi criado em 1944 na Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos. Em 1945, o Departamento de Guerra dos Estados Unidos emitiu o boletim técnico 187 descrevendo o uso da música na recuperação dos militares hospitalizados. O Exército dos Estados Unidos conduziu pesquisas que comprovaram o efeito positivo da música na recuperação de militares feridos, desenvolvendo a musicoterapia no contexto militar.
Por volta dos anos 1950 e 1960, aparecem os modelos pioneiros da musicoterapia: Nordoff-Robbins, Musicoterapia Analítica e GIM. O modelo Nordoff-Robbins, que surge da parceria entre Paul Nordoff e Clive Robbins, que, inicialmente, estabeleceram um programa com música em unidades de cuidado nos departamentos de crianças autistas e psiquiatria infantil no Reino Unido e posteriormente nos Estados Unidos. O seu sucesso com crianças autistas na Universidade da Pensilvânia resultou na investigação de 5 anos: Music Therapy Project for Psychotic Children Under Seven at the Day Care Unit, com publicação, estágios e tratamentos.
Em 1985, a World Federation of Music Therapy (WFMT) foi formalmente estabelecida em Génova, na Itália. Foi fundada por Rolando Benenzon (Argentina), Giovannia Mutti (Itália), Jacques Jost (França) Barbara Hesser (Estados Unidos), Amelia Oldfield (Reino Unido), Ruth Bright (Austrália), Heinrich Otto Moll (Alemanha), Rafael Colon (Porto Rico), Clementina Nastari (Brasil), e Tadeusz Natanson (Polónia), para promover globalmente a profissão.
O processo da musicoterapia pode se desenvolver de acordo com vários métodos. Alguns são receptivos, quando o musicoterapeuta toca música para o paciente. Este tipo de sessão normalmente se limita a pacientes com grandes dificuldades motoras ou em apenas uma parte do tratamento, com objetivos específicos. Na maior parte dos casos, a musicoterapia é ativa, ou seja, o próprio paciente toca os instrumentos musicais, canta, dança ou realiza outras atividades junto com o terapeuta. A forma como o musicoterapeuta interage com os pacientes depende dos objetivos do trabalho e dos métodos que ele utiliza. Em alguns casos, as sessões são gravadas e o terapeuta realiza improvisações ou composições sobre os temas apresentados pelo paciente.
Alguns musicoterapeutas procuram interpretar musicalmente a música produzida durante a sessão. Outros preferem métodos que utilizem apenas a improvisação, sem a necessidade de interpretação. Os objetivos da produção durante uma sessão de musicoterapia são não musicais, por isso não é necessário que o paciente possua nenhum treinamento musical para que possa participar deste tratamento. O musicoterapeuta, por outro lado, devido às habilidades necessárias à condução do processo terapêutico, precisa ter proficiência em diversos instrumentos musicais. Os mais usados são a guitarra clássica (violão), o piano (ou outros instrumentos com teclado) e instrumentos de percussão.
Modelos: Musicoterapia Criativa, Musicoterapia Analítica, Imaginário Guiado e Música (GIM), Musicoterapia Benenzon, Musicoterapia Comportamental, Musicoterapia Neurológica e Musicoterapia Comunitária.
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