Candomblé Parte 1
Candomblé é uma religião afro-brasileira derivada de cultos tradicionais africanos, na qual há crença em um Ser Supremo (Olorum, Mawu, ou Nzambi, dependendo da nação) e culto dirigido a forças da natureza personificadas na forma ancestrais divinizados: orixás, voduns ou inquices, dependendo da nação. De origem totêmica e familiar, é a religião declarada de 0,3% da população brasileira, segundo dados do Censo 2010 do IBGE. Também é possível encontrar praticantes em outros países como Uruguai, Argentina, Áustria, Suíça, Itália, Alemanha, Portugal e Espanha. Inicialmente reprimido pela sociedade escravocrata, pela Igreja Católica, pelo Estado e rejeitado pela sociedade; o candomblé (como outros cultos de matriz africana), "formavam, até meados do século XX, uma espécie de instituição de resistência cultural, primeiramente dos africanos, e depois dos afro-descendentes [...] muita coisa mudou, fazendo dessas religiões organizações de culto desprendidas das amarras étnicas, raciais, geográficas e de classes sociais". Dessa forma, os elementos culturais que compõem o candomblé são, na atualidade, uma parte integrante da cultura do folclore brasileiros. O candomblé não deve ser confundido com a umbanda ou com outras religiões afro-brasileiras e afro-americanas com similar origem (tambor de mina, omolokô, xangô pernambucano ou batuque brasileiros; vodu haitiano, a santería cubana, o obeah e o kumina jamaicanos, o winti surinamês, dentre outras), as quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidas no Brasil. O termo "candomblé" é uma junção do termo quimbundo “candombe” (dança com atabaques) com o termo iorubá “ilé” ou “ilê” (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques". Fernando D'Osogiyan publicou outra versão etimológica da palavra: “Ka Nzo Ndombe” significa em Kimbundo “Pequena Casa de Negros” ou “Pequena Casa de Nativos”. O “Ka” é utilizado como diminutivo. “Nzo” significa “Casa” (vide o nome de diversos Terreiros de origem Angola, que carregam em seus nomes a palavra “Nzo”) e por fim, “Ndombe” (Negro/Nativo). Assim, acreditamos que o “Ka Nzo Ndombe” tornou-se “Ka Ndombe”, até popularizar-se como conhecemos e falamos hoje “Candomblé”. Dentre as nações africanas praticantes do animismo, cada uma tinha, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas, nomeavam um zelador de santo, também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres. Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o "surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII". O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas Gerais em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita". Surgido na Bahia em meados do século XIX, é religião de matriz africana das mais difundidas no Brasil. O termo é uma junção do termo quimbundo candombe (dança com atabaques) com o termo iorubá ilê (casa): "casa da dança com atabaques". A religião tem por base o culto às forças da natureza, sendo chamada de animista. Como os africanos escravizados eram provenientes de diversos povos e regiões, suas religiosidades evoluíram na forma de diversas tradições: são as chamadas "nações do candomblé", que se distinguem entre si principalmente pelas divindades veneradas, os atabaques, os cânticos e a língua litúrgica usada nos rituais.
Nações
Os africanos traficados como escravos para o Brasil pertenciam a povos diferentes que habitavam diferentes regiões da costa atlântica da África, desde o Senegal até Angola, Moçambique e Madagascar. Como resultado, havia uma multidão de cativos com línguas, hábitos e crenças distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem. Desse modo, os cativos eram agrupados pelos senhores em delimitações mais ou menos arbitrárias, tendo como base o povo a qual pertenciam, a região de origem ou mesmo o porto onde eram embarcados. Eram as chamadas “nações africanas”, como “mina”, “angola”, “jeje” e “nagô”. Com o tempo, essas categorias criadas pelos traficantes de escravos foram assumidas pelos próprios africanos e por seus descendentes como símbolo de origem e pertença étnica. É este recorte, baseado na procedência étnica dos fundadores dos primeiros candomblés (e, portanto, na origem étnico cultural de suas cosmologias e crenças religiosas), que dará origem às “nações do candomblé”. De Angola, Congo e do Golfo de Biafra vieram 39% dos africanos destinados a Bahia: eram os negros das nações “congo”, “angola, “macua”, “benguela”, dentre outros; que compunham o grupo linguístico bantu. Porém, 53% dos escravos desembarcados no litoral baiano eram provenientes do Golfo do Benin (igualmente chamado Costa da Mina ou Costa dos Escravos), razão pela qual eram chamados genericamente de “negros minas", divididos em nagôs (termo que designava todos os iorubás da Costa dos Escravos) e jejes (que incluem povos como os ewe, fanti-ashanti, grunsi e, principalmente, o povo fon do antigo Reino do Daomé).
A predominância de escravos de origem jeje-nagô e bantu na Bahia revela a configuração das principais nações do candomblé, quais sejam:
- De origem nagô (povo iorubá da Nigéria, Benin e Togo), cujo idioma é o iorubá:
- Nação ketu;
- Nação ijexá;
- Nação efon.
- De origem jeje (povos euê-fon do Benin e Togo), cujo idioma é o fongbe:
- Nação jeje-mahi;
- Nação jeje-savalu;
- Nação jeje-nagô ou nagô-vodum (culto aos orixás nagôs em rito jeje);
- De origem bantu (povos congos e ambundos de Angola, República do Congo e República Democrática do Congo), cujos idiomas são o quicongo e o quimbundo (por vezes, o português):
- Nação congo-angola ou, simplesmente, nação angola;
- Candomblé de caboclo (sincretismo de elementos bantu e ameríndios).
É possível distinguir estas nações umas das outras pela maneira de tocar os atabaques, pela música, pelo idioma dos cânticos, pelas vestes litúrgicas, algumas vezes pelos nomes das divindades, e enfim por certos traços do ritual. Todavia, os candomblés de origem iorubá são os mais influentes. Desde o início do século XX, pesquisadores brasileiros e estrangeiros (como Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Édison Carneiro, Melville Herkovits, Ruth Landes, Roger Bastide e Pierre Verger) deram ênfase à pesquisa científica sobre os terreiros que afirmavam ser de nação ketu, especialmente os três terreiros mais antigos e prestigiosos (Ilê Axé Iyá Nassô Oká - Casa Branca do Engenho Velho, Ilê Omin Axé Iyamassê - Terreiro do Gantois; e Ilê Axé Opô Afonjá). Cada um destacou a sua maneira a suposta "superioridade" ou "autenticidade" dos cultos de origem iorubá, detentores de uma tradição africana venerável. Os candomblés de angola ou de caboclo, no entanto, foram largamente ignorados pela pesquisa acadêmica e até mesmo considerados "deformados" ou "corrompidos" em alguns momentos.
Crenças
O candomblé é uma religião monoteísta, embora alguns defendam a ideia de que são cultuados vários deuses, o deus único para a Nação Ketu é Olorum, para a Nação Bantu é Nzambi e para a Nação Jeje é Mawu, são nações independentes na prática diária e em virtude do sincretismo existente no Brasil a maioria dos participantes consideram como sendo o mesmo Deus da Igreja Católica. A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras. Foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias casas em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.
Os orixás/inquices/voduns recebem homenagens regulares, com oferendas de animais, vegetais e minerais, cânticos, danças e roupas especiais. Mesmo quando há na mitologia referência a uma divindade criadora, essa divindade tem muita importância no dia a dia dos membros do terreiro, mas não são cultuados em templo exclusivo, é louvado em todos os preceitos e muitas vezes é confundido com o Deus cristão.
- os orixás da mitologia ioruba foram criados por um deus supremo, Olorun (Olorum) dos Yoruba;
- os Voduns da Mitologia Fon foram criados por Mawu, o deus supremo dos Fon;
- os Nkisis da mitologia banta, foram criados por Zambi, Zambiapongo, deus supremo e criador.
- os orixás são: Exú, Ogum, Odé (Oxóssi), Ossain, Oxumaré, Omolu (ou obaluaê), Nanã, Iemanjá, Oxum, Xangô, Oyá (Iansã), Obá , Ewá, Oxalá, Logun'edé e outros.
O candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas deidades ainda cultuadas na África. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades" que podem ser cultuadas como um diferente orixá/inquice/vodun em um ou outro terreiro. Então, a lista de divindades das diferentes nações é grande, e muitos orixás do queto podem ser "identificados" com os voduns do jeje e inquices dos bantos em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.
Orixás têm personalidades individuais, habilidades e preferências rituais, e são conectados ao fenômeno natural específico (um conceito não muito diferente do Kami no xintoísmo japonês, ou do Yazata no zoroastrismo persa). Toda pessoa é escolhida no nascimento por um ou vários "patronos" Orixás, que um babalorixá identificará. Alguns Orixás são "incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orixás não, apenas são cultuados em árvores pela coletividade. Alguns Orixás chamados Funfun (branco), que fizeram parte da criação do mundo, também são incorporados.
Acreditam na vida após a morte, e que os espíritos dos babalorixás falecidos possam materializar-se em roupas específicas, são chamados de babá Egum ou Egungun e são cultuados em roças dirigidas só por homens no Culto aos Egungun, os espíritos das iyalorixás falecidas são cultuados coletivamente Iyami-Ajé nas sociedades secretas Gelede, ambos cultos são feitos em casas independentes das de candomblé que também se cultuam os eguns em casas separadas dos Orixás.
Acreditam que algumas crianças nascem com a predestinação de morrer cedo são os chamados abikus (nascidos para morrer) que podem ser de dois tipos, os que morrem logo ao nascer ou ainda criança e os que morrem antes dos pais em datas comemorativas, como aniversário, casamento, e outras.
No candomblé, como nas religiões tradicionais africanas, acredita-se em um Deus Supremo que criou o mundo, chamado Olorum (tradição nagô), Mawu (tradição jeje) ou Nzambi (tradição angola). Em seguida, essa divindade suprema se afastou, deixando sua criação funcionando por meio das forças da natureza por Ele criadas, as quais são chamadas orixás na tradição nagô, voduns na tradição jeje e minkisi na tradição angola. O que se busca é a interferência concreta de Deus "neste mundo" mediante a invocação das forças sagradas da natureza.
A cada orixá, vodun ou nkisi cabe reger e controlar as forças da natureza assim como certos aspectos da vida humana e social. Cada um, além de ter funções distintas e poderes específicos condizentes com seus traços de personalidade, conta também com símbolos particulares, como as roupas, as cores das roupas e das contas, determinados objetos, adereços, batidas de atabaque e canções características, bebidas e alimentos, sem falar dos animais sacrificiais próprios de cada divindade. E cada orixá, vodun ou nkisi tem ainda uma saudação dirigido somente a ele.
A relação entre cada indivíduo e seu "santo" particular que se estabelece o que é certo ou errado. Para um adepto do candomblé, a definição do que é bom e do que é mau nunca é abstrata, mas sempre relativa a uma pessoa concreta com seu orixá (igualmente voduns e minkisi), pois cada um está relacionado a uma série de tabus específicos, os chamados ewó ou quizila. O que o devoto não pode fazer é quebrar os tabus de seu orixá, mas aquilo que é proibido para um orixá não é necessariamente proibido para outro.
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