Outras religiões

 
Não há consenso entre os espíritas sobre o espiritismo ser ou não uma religião, apesar da doutrina constar como religião em pesquisas demográficas. A causa disto é o tríplice aspecto do espiritismo que permite classificá-lo como uma doutrina que faz um alinhamento "ciência-filosofia-religião", No preâmbulo do livro O Que É o Espiritismo?, Allan Kardec afirma que o espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que emanam essas mesmas relações. Há ainda quem conteste o aspecto religioso do espiritismo, contudo no livro publicado pelo codificador, intitulado O Espiritismo na sua mais simples expressão, claramente ele assegura: Do ponto de vista religioso o espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões.. Kardec ainda esclarece que o espiritismo é religião no Discurso de Abertura da Sessão Anual Comemorativa do dia dos Mortos (Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868), em que diz:
Se é assim, perguntarão, então o espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza. — Kardec
No Congresso Espírita Internacional realizado em Paris em 1925 foi proposto a retirada do aspecto religioso do espiritismo, mas o importante filósofo espírita francês Léon Denis se opôs a isso com tenacidade, mesmo com sua já fraca condição física de saúde. Para Denis, o espiritismo não era a "religião do futuro", mas sim o "futuro da religiões".
A Doutrina Espírita, por sua vez, afirma respeitar todas as religiões e doutrinas, e valorizar todos os esforços para a prática do bem e diz trabalhar pela confraternização e pela paz entre todos os povos e entre todos os homens, embora rejeite firmemente, reitere-se, dogmas fundamentais das outras religiões monoteístas; no caso particular do cristianismo, destacam-se o da divindade de Cristo, o da Santíssima Trindade, o da salvação/justificação pela graça (mais que pelas obras/esforços individuais), e o da existência e importância da Igreja como entidade espiritual, não apenas humana, A doutrina espírita adota a moral cristã, apesar de suas concepções teológicas diferenciadas. Para os espíritas, nome dado aos seguidores do espiritismo, Jesus Cristo se trata do espírito mais elevado a já ter encarnado na Terra.
Os espiritistas (tradução muito usada durante as primeiras décadas do século XX para o neologismo francês spirite) ou espíritas, afirmam-se cristãos e atribuem à doutrina espírita o caráter de uma doutrina cristã, já que consideram seguir os ensinamentos morais de Jesus. Os espíritas fundamentam sua defesa do caráter cristão da doutrina espírita no fato de Allan Kardec defender que a moral cristã, isenta dos dogmas de fé a ela associados, seria o que de mais próximo a um código de ética divino e racional o homem possui. Os espíritas argumentam que os dogmas foram elaborados ao longo dos séculos pela Igreja Católica, não sendo, por isso, necessário segui-los para ser cristão. Além disso, o item 625 d'O Livro dos Espíritos afirma ser Jesus o maior exemplo moral de que dispõe a humanidade, apesar de o espiritismo negar a ele qualquer carácter efetivamente divino.


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